terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tarek Aziz condenado à morte

por LUÍS NAVESAmanhã
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Saddam Hussein, Tarek Aziz, foi ontem condenado à morte pelo Supremo Tribunal iraquiano.

A pesada sentença deve-se ao seu envolvimento na repressão do partido xiita Dawa, onde milita o actual primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki.
O Supremo condenou também à morte dois outros altos dirigentes do regime de Saddam: o ex-ministro do Interior, Sadoon Shaker, e o secretário do ditador, Abed Hammoud. Os três réus foram sentenciados por "crimes contra a Humanidade". Deverão ser todos enforcados, como Saddam Hussein, executado em 2006.

Cristão, de 74 anos, uma das figuras mais visíveis do antigo regime, Tarek Aziz está doente. Em Janeiro teve um acidente vascular cerebral e foi hospitalizado, mas nunca recuperou. Segundo o relato da AFP, ontem, ao ouvir a sentença, "visivelmente fatigado", nem sequer reagiu às palavras do juiz.
O antigo vice-primeiro-ministro e chefe da diplomacia iraquiana já tinha sido condenado a 15 anos pela sua colaboração com o sangrento regime de Saddam Hussein, mas os seus defensores sempre sublinharam que ele não participou nas acções repressivas e que era um ministro político.
Aliás, nas famosas cartas dos "mais procurados", uma acção de propaganda americana efectuada pouco antes da invasão do Iraque, em 2003, Aziz tinha uma cotação relativamente baixa no baralho, era apenas o oito de espadas. O secretário presidencial Hammoud, por exemplo, era o ás de ouros.

A execução de Tarek Aziz, cuja data se desconhece, será controversa. Ao ser conhecida a sentença de morte, um dos seus advogados, citado pelo New York Times, afirmou que o processo foi um "julgamento político". O filho do condenado, Ziad, classificou a sentença de "operação de vingança por tudo aquilo que se passou no Iraque". E o defensor Giovanni di Stefano (um dos advogados de Aziz) definiu este processo como sendo "uma farsa".
A decisão do tribunal cita como justificação da sentença o assassínio do dirigente do Partido Dawa, Mohammad Baqr Sadr, morto com a sua irmã em Abril de 1980. Estas mortes surgiram no âmbito da cruel repressão que Saddam exerceu sobre os líderes xiitas do Iraque, por causa da guerra Irão-Iraque. No entanto, a ligação ao presente é um pouco mais complicada.
A família Sadr nunca apresentou queixa contra Tarek Aziz e não assistiu ao processo. O filho de Mohammad Sadr, Jaafar, tem repetido frequentemente que a melhor maneira de honrar o seu pai será "virar a página dos anos sombra".
Apesar de ser uma decisão do Supremo, existe possibilidade de apelo. A condenação também terá de ser confirmada pelo presidente. As autoridades iraquianas deverão sofrer pressões da União Europeia e de organizações internacionais, tais como a Amnistia Internacional, para estes condenados não serem enforcados.

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