"Não adianta deixar o Irã isolado", diz Lula
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira no programa Café com o Presidente que recebe nesta tarde o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, como forma de incluir o país nas conversas sobre a paz no Oriente Médio. Lula teve encontros nos últimos dias com presidentes de Israel e da Autoridade Palestina.
"Não adianta você deixar o Irã isolado. Se o Irã é um ator importante em toda essa discórdia, é importante que alguém sente com o Irã, converse com o Irã e tente estabelecer um ponto de equilíbrio, para que a gente volte a uma certa normalidade no Oriente Médio", disse Lula no programa de rádio, quando criticou os países que não dialogam com o Irã.
A presença de Ahmadinejad no Brasil atraiu críticas de grupos que afirmam que há falta de liberdade e democracia no Irã e que atacam o presidente iraniano por declarações em que ele negou a existência do Holocausto.
"São três países que estão envolvidos em conflito, três países que têm muita responsabilidade pela paz no Oriente Médio, e tem muita gente que acha que nós deveríamos receber só um, ou seja, iraniano acha que nós deveríamos receber só Irã, palestinos acham que nós deveríamos receber só palestinos e judeus acham que nós deveríamos receber só judeus", declarou Lula.
Nos últimos dias, Lula recebeu o presidente de Israel, Shimon Perez, e o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas.
"Ora, acontece que se tem um conflito, se tem uma divergência, e não é curta, é uma divergência muito longa, de muito tempo, não adianta você isolar as pessoas. É preciso você estabelecer um diálogo, uma política muito séria de conversação, para que você possa, então, acreditar que é possível estabelecer a paz no Oriente Médio", acrescentou.
Ele lançou suspeitas sobre a dificuldade em se chegar a um acordo na região. "É preciso que a gente agora comece a perguntar quem é que não quer a paz. E detectar quais são os grupos que estão radicalizando para não ter a paz. Porque é com esses que nós precisamos procurar parceiros para conversar", disse.
Lula afirmou ainda que conversa com todas as partes e que não aceita intolerância. "Quem acha que a gente não pode conversar é tão intolerante quanto aqueles que não querem a paz."
Ele defendeu ainda que se chegue a uma proposta única de paz em cada país, afastando as divergências. Para o presidente, que considera o atual momento "rico" ao mostrar a capacidade de conversação do Brasil, cabe a Organização das Nações Unidas negociar a paz na região.
"A ONU deveria estar negociando, estabelecer com os países qual é o critério, qual é base para fazer o acordo e fazer o acordo e viver tranquilo", afirmou.
Depois de receber os três presidentes, Lula anunciou que em março visitará Israel, Jordânia e Palestina. Ele voltou a dizer que pretende fazer o "jogo da paz" entre a seleção brasileira de futebol e uma seleção mista composta de israelenses e palestinos em um estádio neutro.
"E eu acho que isso poderia mexer com a cabeça de muita gente."
(Reportagem de Carmen Munari)
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