domingo, 24 de novembro de 2013

Irã aceita limitar programa nuclear e Obama celebra vitória diplomática


Aliados dos EUA na região criticam pacto assinado em Genebra; acordo prevê congelamento do processamento de urânio a mais de 5%


24 de novembro de 2013 | 22h 47
              
    Cláudia Trevisan, correspondente

WASHINGTON - O presidente americano, Barack Obama, conseguiu neste domingo, 24, sua mais expressiva vitória diplomática no cargo ao alcançar um acordo para frear o avanço do programa nuclear iraniano. O pacto foi assinado em Genebra pelo secretário de Estado americano, John Kerry, e pelos representantes de Irã, China, Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha e França.

O Irã aceitou limitar durante seis meses o seu programa nuclear em troca da suspensão parcial de sanções que estrangularam sua economia. Nesse prazo, os negociadores tentarão chegar a pacto definitivo, que garanta o caráter pacífico de suas atividades de enriquecimento de urânio e permita o fim de todas as sanções aplicadas à república islâmica.

Teerã se comprometeu a não enriquecer urânio a mais de 5% e a neutralizar todo seu estoque de urânio enriquecido a quase 20%, patamar acima do qual o combustível pode ser usado na produção de armas. O país também aceitou se submeter à supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Principal elemento que levou a França a resistiu a um acordo no início do mês, o reator de Arak terá suas atividades suspensas - o local poderia produzir plutônio.

Em troca, os EUA aceitaram suspender sanções no valor de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões ao longo dos próximos seis meses.
O governo americano apresentou o acordo fechado em Genebra como o mais importante avanço em torno do programa iraniano desde 2003, quando houve a primeira tentativa de limitar sua expansão. As conversas foram concluídas pouco depois das 3h do domingo em Genebra (meia-noite, no horário de Brasília).

Em Washington, Obama fez um pronunciamento no qual atribuiu o sucesso das negociações ao impacto das sanções econômicas e à “abertura para diplomacia” trazida pela eleição de Hassan Rohani como novo presidente do Irã, em junho.

A obtenção de um saída pacífica para a questão nuclear iraniana é uma prioridade de Obama desde que ele chegou ao poder, em 2009.

O acordo representa uma rara vitória de sua política externa, abalada pelas revelações de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), a errática atuação em relação à Síria - e a insegurança que ela gerou entre aliados americanos no Oriente Médio - e divergências com o Afeganistão em torno de um pacto militar para permanência de tropas americanas no país depois de 2014.

“A diplomacia abriu um novo caminho na direção de um mundo que é mais seguro - um futuro no qual nós podemos verificar que o programa nuclear iraniano é pacífico e não pode construir uma arma nuclear”, declarou Obama.

A determinação dos EUA de negociar com o Irã afetou o relacionamento do país com seu principal aliado na região, Israel, que se uniu a nações árabes na condenação do acordo. Para eles, o pacto dará fôlego à república islâmica para continuar a avançar na construção da bomba atômica - Teerã nega que esse seja o objetivo e sustenta que o programa tem fins pacíficos.

Na tarde de domingo, Obama telefonou para Netanyahu e reafirmou o comprometimento americano com Israel. O presidente reconheceu também em seu discurso a existência de “boas razões” para o ceticismo do país em relação ao Irã. “Como presidente e comandante em chefe, farei o que for necessário para impedir o Irã de obter armas nucleares”, afirmou. “Mas tenho uma profunda responsabilidade de tentar resolver nossas diferenças pacificamente, em vez de me precipitar na direção de um conflito”, justificou.

O pacto é apenas o primeiro passo na direção do desfecho desejado pelos EUA: congelar as atividades das usinas do país e dar tempo aos negociadores para buscarem uma solução de longo prazo.

O documento afirma que o eventual novo pacto deverá entrar em vigor no prazo máximo de um ano. O acordo poderá ser prorrogado depois de seis meses se houver concordância dos sete países envolvidos em sua negociação.



                       

Tópicos: Irã, EUA

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Yasser Arafat foi morto por envenenamento

07.11.2013
  
Líder palestino morreu em 2004, após uma refeição que lhe causou náuseas, dor abdominal e vômitos

Suíça. Um relatório médico obtido com exclusividade pela emissora de televisão "Al Jazeera" aponta que foram encontrados níveis de polônio radioativo pelo menos 18 vezes acima do normal nos restos mortais do líder palestino Yasser Arafat, morto há nove anos. O resultado, assim, apoia moderadamente a proposição de que a morte foi causada por envenenamento.

Arafat tinha inimigos entre seu próprio povo, mas palestinos acusam Israel de ser o responsável pela sua morte, o que é negado por Tel-Aviv FOTO: REUTERS


Esses testes foram realizados pelo Centro Universitário de Medicina Legal de Lausanne, na Suíça. O polônio estava concentrado em suas costelas e em sua pélvis. Os cientistas envolvidos na pesquisa afirmam, em um relatório de 108 páginas, ter até 83% de confiança de que Arafat foi envenenado pela substância química, o que provavelmente seria sua causa de morte.

O corpo de Arafat foi exumado em novembro passado, após suspeitas de que ele teria sido assassinado. Não há indicações de quem é responsável pela morte, mas o polônio encontrado em seu corpo é de um tipo raro, em geral obtido por meio do acesso a reatores nucleares.

De acordo com a "Al Jazeera", Suha Arafat, viúva do líder palestino, recebeu o relatório na última terça-feira e afirmou que essa morte é o "crime do século". "Estou em luto mais uma vez, é como se acabassem de me dizer que Arafat morreu", declarou.

Arafat adoeceu em outubro de 2004 subitamente após uma refeição, com náuseas, vômito e dor abdominal. À época, ele foi diagnosticado com gripe. O líder foi levado para Paris, para ser tratado. Ele morreu em 11 de novembro, aos 75 anos. Na ocasião da morte não foi feita uma autópsia.

Investigação

O assunto voltou à tona em 2011, quando um repórter da rede "Al Jazeera" começou a investigar o caso. Em 2012, um documentário televisivo levou os pedidos pela exumação do corpo de Arafat para ser feita a análise por grupos suíços, franceses e russos. O relatório diz que não é possível excluir a manipulação das amostras entregues para análise, a despeito da garantia da viúva de ter guardado os pertences de Arafat em local seguro.

O isótopo de polônio-210 não apresenta risco para a saúde humana se estiver fora do corpo. Caso ingerido ou inalado, mesmo pequenas quantidades como 0,1 microgramas se tornam fatais. O caso mais famoso de envenenamento por polônio é o do dissidente russo Alexander Litvinenko, que morreu em 2006, após ter bebido um chá com essa substância.

Arafat tinha inimigos entre seu próprio povo, mas muitos palestinos acusam Israel, que cercou o líder palestino em seu quartel-general em Ramallah nos dois últimos anos e meio de sua vida. O governo israelense nega qualquer participação na morte, observando que ele tinha 75 anos e não tinha um estilo de vida saudável.